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Tuesday, May 30, 2006

“All right. The story of the doll...It’s the last year of Kafka’s life, and he’s fallen in love with Dora Diamant, a young girl of nineteen or twenty who ran away from her Hasidic family in Poland and now lives in Berlin. She’s half his age, but she’s the one who gives him the courage to leave Prague – something he’s been wanting to do for years – and she becomes the first and only woman he lives with. He gets to Berlin in the fall of 1923 and dies the following spring, but those last months are probably the happiest months of his life. In spite of his deteriorating health. In spite of the social conditions in Berlin: food shortages, political riots, the worst inflation in Germany history. In spite of the certain knowledge that he is not long for this world.
“Every afternoon, Kafka goes out for a walk in the park. More often than not, Dora goes with him. One day, they run into a little girl in tears, sobbing her heart out. Kafka asks her what’s wrong, and she tells him that she’s lost her doll. He immediately starts inventing a story to explain what happened. ‘Your doll has gone off on a trip,’ he says. ‘How do you know that?’ the girl asks. ‘Because she’s written me a letter,’ Kafka says. The girl seems suspicious. ‘Do you have it on you?’ she asks. ‘No, I’m sorry,’ he says. ‘I left it at home by mistake, but I’ll bring it with me tomorrow.’ He’s so convincing, the girl doesn’t know what so think anymore. Can it be possible that this mysterious man is telling the truth?
“Kafka goes straight home to write tha letter. He sits down at his desk, and as Dora watches him wite, she notices the same seriousness and tension he displays when composing his own work. He isn’t about to cheat the little girl. This is a real literary labour, and he’s determined to get it right. If he can come up with a beautiful and persuasive lie, it will supplant the girl’s loss with a different reality – a false one, maybe, but something true and believable according to the laws of fiction.
“The next day, Kafka rushes back to the park with the letter. The girl is waiting fot him, and since she hasn’t learned how to read yet, he reads the letter out loud to her. The doll is very sorry, but she’s grown tired of living with the same people all the time. She needs to get out and see the world, to make new friends. It’s not that she doesn’t love the little girl, but she longs for a change of scenery, and therefore they must separate for a while. The doll then promises to write the girl every day and keep her abreast of her activities.“That’s where the story begins to break my heart. It’s astonishing enough that Kafka took the trouble to write the first letter, but now he commits himself to the project of writing a new letter every day – for no other reason than to console the little girl, who happens to be a complete stranger to him, a child he ran into by accident one afternoon in a park. What kind of man does a thing like that? He kept it up for three weeks, Nathan. Three weeks. One of the most brilliant writers who ever lived sacrificing his time – his ever more precious and dwindling time – to composing imaginary letters from a lost doll. […]”
Paul Auster - The Brooklin Follies
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Alfred Sieglitz

Monday, May 29, 2006


Estou Vivo e Escrevo Sol!
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O sol desaparece lentamente por trás da serra: o céu toma outras cores que desfiguram a paisagem e ridiculariza as sombras. Tenho ódio às palavras e raiva ao papel sinto-me completamente descontrolada e nada consigo fazer para poder colocar as minhas ideias em ordem. Não aguento mais! Tenho vontade de partir tudo aquilo que me rodeia, destruir a minha vida material, visto que é a única que consigo controlar. Ô meu amor, deixa-me desaparecer para sempre, já que não consigo aguentar a espera e a angústia que a saudade me provoca. Será que não percebes que quero arruinar-me definitivamente? Será que não entendes que quero destruir todos os sentimentos que me pertencem? Se não o fazes, tenta! Se não, darei em louca mais do que alguma vez já o fui! Tenho raiva de mim? Talvez, mas não entendo bem a razão. As lágrimas aparecem à beira dos meus olhos claros: sinto-me triste e desamparada.
O vento, leve e fresco, baloiça os cortinados abeirados às janelas e estas deixam transparecer alguns raios de sol dentro de casa.
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Helena Marcelino

Bom dia!


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Se houvesse degraus na terra...
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Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

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Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

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Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

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Herberto Helder


Sunday, May 28, 2006

Grandes emsembles da historia de Sabrosa!
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Friday, May 26, 2006

Bem vindo a casa amigo!

Ao estar fora de Portugal, tenho a aportunidade de ver o meu pais por outra perspectiva. Isto abre caminho a novas viagens, maioritariamente via internet, a sitios reconditos que criaram e continuam a contribuir para a psique lusa. Na ilha Terceira, no final das celebracoes do Divino Espirito Santo, em todas as freguesias se realizam as "touradas à corda" em que o touro, amarrado com uma corda é manobrado por vários homens e percorre algumas ruas da localidade perseguindo os populares mais afoitos que o desafiam e enfrentam, perante as gargalhadas e aplausos dos que assistem. Desconhecia esta tradicao Portuguesa, e desconhecia também Ananias Contente, uma celebridade na ilha, responsavel pela introducao de varicoes inovadoras nestas touradas, como a tourada a corda com um guarda-sol ou, pasmem-se, a tourada a corda com o cobertor da TAP! JMC
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.......................................................................Foto: Rui Vilela


Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
E sentando-me outra vez a porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraido.

Alberto Caeiro, 7-11-1915


Ontem conheci um anjo

Annabel Lee
(de Edgar Allan Poe)

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.

Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.

E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,U
m vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.

E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.

Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.

trad. Fernando Pessoa
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Claude Monet, La femme à l'ombrelle


O aparelho anunciava, hoje vai haver sangue na TV. Manuel Maria Carrilho defronta José Pacheco Pereira! A contenda não desapontou. Valeu a pena perder 15 minutos a sintonizar a RTP internacional no aparelho cá de casa. Bem vistas as coisas, JPP não teve que sacar das luvas de boxe metaforicas . Antes, perplexo, limitou-se a assistir aos golpes baixos e vingançazinhas do seu colega de bancada, o jornalista (como é mesmo o nome do tipo?) sobre MMC. Tudo com vasta pesquisa de fundo: frases soltas, entrevistas, opiniões (quem sabe se não teria mesmo vídeos e fotografias para o caso de a coisa ficar feia?). Parecia um gato açanhado. Só para reunir tal parafernália deve ter perdido uma noite de sono. Começou a peleja na mó de baixo é certo, mas numa derradeira tentativa de KO no último minuto do último round quase derrubava o adversário. Não conseguiu, mas pelo menos proporcionou o melhor momento do programa. Só aqui JPP percebeu que afinal, era mesmo de um combate que se tratava...um combate de egos. Terminou assim o debate: o “rosto da vergonha do jornalismo” e o “rosto da derrota eleitoral” no mesmo ecrã bipartido.

- Parecia um filme do Linch pá...
- Porquê do Linch?
- No final fica sempre aquela sensação de desconforto, de ligeira angústia. Apetece ver outra vez...- Por mim gostava era de esbofetear o Jornalista...e está decidido...nunca mais vejo a SIC Noticias!
JMC

Thursday, May 25, 2006

"O estudo de Rui Bebiano e de Elíseo Estanque, segundo o JN, diz que «32,3% dos alunos da Universidade de Coimbra (UC) concorda com a prática de actos de violência física ou simbólica». Não me admira. Esse mundo miserável que vibra com desfiles de carros alegóricos, bênção das pastas, missas em descampados (com meninas pintadas à pressa, vestidas de homem, de cabelo escorrido), queima das fitas, é mesmo assim. Ide, pois, sujar o Choupal de latas de cerveja. Ide recordar os duces que viveram rodeados de garrafões, ignorância e mau hálito. Ide desfilar no meio de capas & batinas vomitadas, de cançonetas do pequeno Saul e de semanas académicas acompanhadas de Quim Barreiros. Ide reproduzir a alarvidade de tudo o que é triste e medonho e vos antecedeu nessa miséria. 18,4% admite que não lê livros e 29,6% utilizam automóvel próprio nas deslocações diárias. Não é preciso ter lido Vaneigem ou Guy Debord para conhecer esse retrato do fascismo, das coisas rasteiras, da selvajaria, do apodrecimento, da ignorância. O JN diz que o estudo apurou que «28% dos alunos discordam da ideia de que a praxe deve ser facultativa e respeitar quem não quiser aderir». Que bom. E que «mais de 80% dizem-se favoráveis à discriminação sexual, recusando qualquer revisão do código da praxe que iguale os direitos de homens e mulheres». Ide, portanto. Podeis dar erros ortográficos, fechar os portões da universidade (e desta vez a sério), recusar-vos a ler, frequentar o shopping, reprovar à vontade. Eu triplicaria as propinas para essa gente, até conseguir expulsá-los da universidade." in A origem das especies
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Wednesday, May 24, 2006

Edward Hopper, Morning Sun


Estou Vivo e Escrevo Sol
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Hoje sinto que carrego em mim todas as tristezas do mundo.

Entraste por mim adentro agora – com que direito? – e nem sequer tenho já uma fotografia tua. Alguma vez tive? Depois de ti veio uma Morte. Não foi uma morte daquelas que chegam e se instalam sem te dares conta que és infeliz. Foi mais uma doença crónica, daquelas que eliminado o teu gosto pela vida te transformam num cínico e mais tarde ou mais cedo terminam com um suicídio. Será hoje o dia da minha morte (tirar a minha vida sempre me pareceu o mais lógico)? Nunca mais fui capaz de amar alguém!
Naqueles dias em que um sol desperta no meu peito e em que quero chorar por cada sorriso que vejo, digo a mim mesmo que o destino se encarregará de nos colocar frente a frente. Gosto de imaginar que a abstracção que és hoje tomará corpo numa qualque mulher da rua. JMC
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Sebastião Salgado

Não queiras saber de mim (Rui veloso / Carlos Tê)

Não queiras saber de mim,
Esta noite não estou cá,
Quando a tristeza bate,
Pior do que eu não há,

Fico fora de combate,
Como se chegasse ao fim,
Fico abaixo do tapete,
Afundado no serrim.

Não queiras saber de mim,
Porque eu estou que não me entendo,
Dança tu que eu fico assim,
Hoje eu não me recomendo.

Mas tu pões esse vestido ,
E voas até ao topo,
E fumas do meu cigarro,
E bebes do meu copo.

Mas nem isso faz sentido,
Só agrava o meu estado,
Quanto mais brilha a tua luz,
Mais eu fico apagado.

Dança tu que eu fico assim,
Porque eu estou que não me entendo,
Não queiras saber de mim,
Hoje não me recomento.

Amanhã eu sei já passa,
Mas agora estou assim,
Hoje perdi toda a graça,
Não queiras saber de mim.

Tuesday, May 23, 2006


Estou Vivo e Escrevo Sol...
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Como é saboroso não ouvir o lamento do dia: é tão doce o sonho mesmo que seja efémero, mesmo que não seja nada mais do que o fruto da minha fértil imaginação.
H.Marcelino
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Incentivo

Verdes são os teus olhos,
Escura a tua alma.
Quem diria que por trás
Dessa aparência febril
Se encontra alguém frágil.
Não desistas:
Luta como sempre o fizeste
Mesmo se ao tropeçar
Não possas ganhar.
Podes vencer!
A luta é tua
Até morrer!
H. Marcelino
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Helena Marcelino, 24 anos, nasceu em Franca mas vive em Portugal desde tenra idade. Conclui neste momento a sua licenciatura em Bioquimica na Universidade da Beira Interior.


Um excelente filme documentario, que nos mostra o como a propalada luta pela "liberdade" descarrila, nos psicoticos dias que vivemos, para a violacao dos direitos humanos. Sentado no trono que todos nos lhe oferecemos, JWB e a sua equipa de ineptos constroem e eternizam um enredo holywoodesco, enquanto a sua maquina de guerra vai comprando conflitos onde quer que se vendam.
JMC

Ouvindo Arab Strap no laboratorio logo pela manhã...deve haver alguma lei que proibe isto!


Friday, May 19, 2006

O regresso da mistica...


in Jornal "A Bola"
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Foto: KentonThatcher


Make me happy!!

Thursday, May 18, 2006

Muito bom, muito bom...

"...Gosto tanto de vocês como dos meus vizinhos da Bombardeira na Lourinhã, da forma como me vinham a casa trazer-me morcelas frescas depois da matança do porco, e eu fingia que ficava encantada com aquilo «que bom, um pedaço de tripa com sangue e arroz de porco, era mesmo o que eu queria» e depois impedia o Davide de comer a morcela que o desgraçado repescava do caixote do lixo.O Davide explicava-me que a morcela, «se a cortares às rodelas, é igualzinha ao sushi que tu gostas, ó, aqui é o arrozinho, aqui é aquela alga pegajosa, é redondinho e tudo.». O Davide inventava assim o sushi português com a maior naturalidade. Como daquela vez em que queria impingir-me uma fatia de pizza para cima da qual tinha espirrado baba e ranho, a dizer-me que era uma fatia «microbiótica, como tu gostas».Mas a dizê-lo assim sinceramente e mesmo na esperança que eu comesse a fatia salpicada de muco nasal para ele ficar com a outra cheia de alcachofras. E eu que deixei tudo fugir, mas tudo é igual por todo lado ó Portugal, por isso não se foge de nada, quando não se pode fugir dos portugueses. Quando se é portuguesa também, como fugir de si mesma? Naturalizar-me sueca, sim, era uma hipótese. Mas não dá, os portugueses são tarados por suecas.
E se a saudade em si é portuguesa para quê ir ao encontro dela lá fora?"

in Tasca da Cultura

I'm the Rabbit In Your Headlights


Léxico

Com as palavras que tenho teço um poema!
Apenas com estas,
não com as palavras que sei porque dessas
apenas aquelas que tenho servem para o tecer.

Das palavras que tenho o poema nasce!
Cresce em torno das palavras que sei,
respira entre as palavras que pressinto,
aspira e sonha com aquelas que saberei.

Porque as palavras são muitas,
não me interessa usar todas as palavras...
Uso só as que tenho e
com as palavras que tenho teço o poema!

Ninguém sente com mais palavras

do que com aquelas que tem

João Carvas


No alarms and no suprises, please!

Wednesday, May 17, 2006

Segundo o Death Clock restam-me 1,028,636,771 segundos de vida.

Também fixam a data da minha morte em (Monday, December 29, 2031)...nada mau ahh?!

Tou muito mais descansado...


O ESPECTÁCULO DO MUNDO E A SABEDORIA

«Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo», escreveu Ricardo Reis. Considerando detestável esta afirmação (em entrevista conduzida por Clara Ferreira Alves e inserida num documentário realizado por João Mário Grilo), José Saramago acrescenta que O Ano da Morte de Ricardo Reis quer «mostrar a esse homem, que fez essa declaração, a que apetece chamar monstruosa, que afinal de contas (...) se ser espectador do espectáculo do mundo constitui a sabedoria, então, meu caro Ricardo Reis (em 1936), aí tens o espectáculo do mundo, e agora diz-me se ser espectador disto é ser-se sábio».
Acontece que o verso do heterónimo de Fernando Pessoa (Saramago coloca-o em epígrafe no romance) é o primeiro de uma ode que destila um certo hedonismo báquico. Assegura o poeta:

Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.

Há, portanto, vinho envolvido nesta sabedoria. Mais: o bebedor tem consciência da fragilidade ontológica da sua carcaça mortal. Com efeito,

Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ela sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto (...).

Temos, por conseguinte, a chave: recorrendo à cor do vinho (ou seja, ao sabor, não importa se branco ou tinto), o discípulo de Baco decide ocultar a evidência da morte e, com toda a certeza, as convulsões dos dias e as agitações dos homens (embora se condene a sentir outras ainda maiores). Tal atitude não parece a de um espectador que rejubile ante o espectáculo do mundo: parece, ao invés, a de alguém que evita o mundo e o seu espectáculo, e a quem é dado contentar-se com semelhantes realidades — justamente por saber evitá-las.
Todavia, se amputarmos o famigerado verso da vínica ambiência (como faz o Nobel da literatura), poderemos também interpretá-lo da seguinte forma: sábio é o que se contenta em ser espectador, uma vez colocado perante aquelas circunstâncias do mundo que lhe não solicitam qualquer acção particular. Entenda-se, não é quietismo: é prudência; não é conformismo: é discernimento. A sabedoria, neste caso, longe de ser uma extensão da vinhaça, consistirá em refrear ímpetos pseudo-revolucionários, sobretudo quando tais ímpetos expressam apenas, à sua maneira, a essência do próprio espectáculo que tencionam (ou fingem) subverter.

Gustave Doré 1832 - 1883
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Tuesday, May 16, 2006

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
Boa noite. Eu vou com as aves!
Eugénio de Andrade

Vincent Van Gogh

Enquanto não ha texto, ha fotos...
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Gruyeres - Switzerland

Monday, May 15, 2006

Si tu quieres, tu tienes...
"Manuel Maria Carrilho supõe que todos lhe invejamos o génio intelectual. E supõe, acima de tudo, que todos lhe invejamos a esposa. Todos querem a Bárbara e quem tem a Bárbara é o Manuel. É isso que no fundo explica a hostilidade contra o Manuel.Acho que Carrilho está enganado. É natural que os homens desejem as mulheres atraentes e invejem os seus namorados ou maridos. Mas isso não causa forçosamente hostilidade. Há imensos homens que invejo nesse domínio e que estimo pessoalmente (ou mesmo de quem sou amigo). Invejar não é querer o mal de alguém: é querer o bem que eles têm. Além do mais, se eu atacasse os homens que invejo por causa da esposa, não me ocupava de Carrilho. Garanto que todos os dias escrevia livros contra Luís Figo, artigos contra Luís Figo, panfletos contra Luís Figo, gazetilhas contra Luís Figo, fotocópias contra Luís Figo. E, naturalmente, posts contra Luís Figo."

O Público introduziu uma novidade interactiva no seu sítio na rede, com a pergunta sobre se uma fotografia violenta dos corpos calcinados na explosão do oleoduto nigeriano devia vir na primeira página. A resposta parece relativamente óbvia: não. Não, porque não há necessidade informativa na publicação destacada que seja maior do que o poderoso e perigoso espectáculo da morte em cima dos nossos olhos. A questão, no entanto, merece discussão, porque pode haver outras circunstâncias que justifiquem a publicação de uma fotografia daquele tipo, quando é necessário não apenas informar, mas também denunciar. Talvez num jornal nigeriano, se acaso houve incúria na explosão e nas mortes, se justifique a publicação, mas num português seria mais espectáculo do que informação.No entanto, há outras perguntas mais complicadas que o Público deve fazer, como seja a de saber se deveria estar na primeira página de hoje a seguinte frase: "Menina retirada aos pais foi assassinada depois de ir passar a noite a casa". in abrupto.blogspot.com
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Uma explosão num oleoduto da Nigéria, esta manhã, fez

entre 150 e 200 mortos, segundo o balanço mais recente.

Friday, May 12, 2006

Portas...

Wednesday, May 10, 2006

O menino de sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mão. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece")
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.


Fernando Pessoa (1888 - 1935)

Hoje sinto-me assim...

Enérgico

(Deve ter sido da mer** dos bifes de cavalo!)

Todos precisamos de comer...

Foi a Missão (im)Possivel 3
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Nada mau para um filme com Tom Cruise. O melhor episodio da triologia, sem duvida, mas ainda assim peca pela presenca do actor, produtor, adepto da cientologia, alter ego de Hollywood...é que o homem nao sabe mesmo representar!

Tuesday, May 09, 2006

Biochemistry rules!


A ponte que falta entre a obesidade, a diabetes e o sistema imunitario?



Devotos leitores

O trabalho nestas semanas tem-se avolumado, dificultando assim a remessa das desejadas – bem o sei – crónicas de cariz semanal que fazem a delícia de um, no máximo dois – eu incluído, compreenda-se – ávidos leitores deste monte de lixo cibernético que é o meu blog. Mas como dizem os bifes, life goes on e always look at the bright sight of life (e outras anglosaxoníces tão ou mais idiotas), e por isso vou-me deixar de queixas, que mais não são do que desculpas de mau pagador, e tratar de dar à pena.
Esta semana chegou uma nova pos-doc ao laboratório. Como devem imaginar, os pos-doc’s estão logo a seguir aos estudantes de Phd na cadeia alimentar que é a ciência contemporânea. A estes seguem-se os famigerados estudantes de licenciatura que equivalem à mais reles escumalha na pirâmide. São assim como aqueles empregados de limpeza que limpam as retretes nos dias de ressaca dos arraiais da cerveja. Como ia dizendo, esta Pos-doc que, acrescento, nada deve à beleza de um sapo esmagado numa autoestrada, quis impor-se no laboratório, especialmente em relação ao inocente aspirante a doutor em filosofia. Ele são notas coladas nas bancadas com os protocolos, ele são post-its com as estruturas da arginina e de outros aminoácidos, ele são preparações meticulosas dos trabalhos, ele são protocolos passados de fresco a computador, ele é o lufa-lufa constante da impressora a bombar artigos de tudo quanto é revista de ciência. Mas digo-vos eu, estas conheço-as eu de gingeira, tanta minudência só pode ser proporcional ao peso do estrume que lhe esmaga o córtex contra as meninges. Destas havia aos montes na Covilhã, como estas conheço várias que estão hoje a trabalhar no Mac (sem desprimor pelo trabalho nas cadeias de fast-food), destas mesmas sonsas que não conseguem abrir a boca para sugerir um rumo para o trabalho, que não conseguem reagir às adversidades. Mas o tempo dar-me-á ou não razão e entretanto continuarei a traçar os rumos que o destino me permitir e a fingir não saber que este tipo de pessoas existe, tudo em nome da coesão do grupo é claro.
Parece também, meus amigos, que irei receber um aumento de ordenado pelo menos nos próximos meses. A notícia, dada pelo meu mentor, caiu como uma mini gelada em goela empoeriada, e foi a maneira do chefe de deparmento (big boss da fisiologia) mostrar solidariedade pela minha situação financeira e ao mesmo tempo – permitam-me a veleidade narcisa – demonstrar confiança no meu trabalho actual e futuro. Gente boa a que encontrei nesta universidade, respira-se união mesmo entre grupos e o ambiente é sumpimpa, como diria o nosso Eça ou uma das suas personagens!
Caríssimos, mais não se me ocorre do que dar a tacada final e subscrever-me com amizade a todos os que lerem este pequeno apontamento.

Sunday, May 07, 2006


Ondas Lusas

Friday, May 05, 2006

A beleza indelével

A.Obolenski

Boa noite

Camisas T

"Grad School: It seemed better than getting a real job"



Thursday, May 04, 2006

O homem de letras...

Sintomas