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Thursday, May 18, 2006

Muito bom, muito bom...

"...Gosto tanto de vocês como dos meus vizinhos da Bombardeira na Lourinhã, da forma como me vinham a casa trazer-me morcelas frescas depois da matança do porco, e eu fingia que ficava encantada com aquilo «que bom, um pedaço de tripa com sangue e arroz de porco, era mesmo o que eu queria» e depois impedia o Davide de comer a morcela que o desgraçado repescava do caixote do lixo.O Davide explicava-me que a morcela, «se a cortares às rodelas, é igualzinha ao sushi que tu gostas, ó, aqui é o arrozinho, aqui é aquela alga pegajosa, é redondinho e tudo.». O Davide inventava assim o sushi português com a maior naturalidade. Como daquela vez em que queria impingir-me uma fatia de pizza para cima da qual tinha espirrado baba e ranho, a dizer-me que era uma fatia «microbiótica, como tu gostas».Mas a dizê-lo assim sinceramente e mesmo na esperança que eu comesse a fatia salpicada de muco nasal para ele ficar com a outra cheia de alcachofras. E eu que deixei tudo fugir, mas tudo é igual por todo lado ó Portugal, por isso não se foge de nada, quando não se pode fugir dos portugueses. Quando se é portuguesa também, como fugir de si mesma? Naturalizar-me sueca, sim, era uma hipótese. Mas não dá, os portugueses são tarados por suecas.
E se a saudade em si é portuguesa para quê ir ao encontro dela lá fora?"

in Tasca da Cultura

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