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Monday, April 17, 2006

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É certamente um fenómeno estranho que todos os artistas, poetas, músicos, pintores sejam desafortunados nas coisas materiais – mesmo os felizes. Guy de Maupassante é uma recente prova disso. O que nos traz à questão eterna: é toda a vida visivel para nós, ou não será, pelo contrário, este lado da morte que vemos apenas un dos hemisférios?
Pintores – para não falar de outros – mortos e enterrados, falam para a geração seguinte ou para as várias gerações seguintes através do seu trabalho. É tudo, ou há algo mais para além disto? Na vida de um pintor, a sua morte não é, talvez, a coisa mais difícil.
Pela minha parte, declaro que não sei nada de nada sobre isto; mas olhar para as estrelas sempre me faz sonhar (tão simplesmente como sonho) sobre os pontos negros de um mapa representando cidades e vilas. Porquê, pergunto a mim mesmo, não poderão os pontos brilhantes do firmamento estar tão acessíveis como os pontos pretos no mapa de França? Se apanhamos o comboio para chegar a Tarascon ou Rouen, apanhamos a morte para alcançar uma estrela. Uma coisa indubitavelmente verdadeira neste raciocínio é esta: que enquanto estamos vivos não conseguimos chegar a uma estrela, do mesmo modo de que quando estamos mortos não podemos apanhar um comboio. Parece-me possível que a cólera, “gravel”, “phthisis”, e o cancro sejam os meios celestiais de locomoção, tal como os barcos a vapor, os autocarros, e as linhas-férreas são os meios terrestres. Morrer pacificamente de velhice seria fazer essa viagem a pé.
Cada vez mais sinto que não devemos julgar Deus tendo como base este mundo; é um estudo que não resultou. O que podemos fazer, num estudo que correu mal, se simpatizamos com o artista? Não se encontra muito que criticar; travamos a língua. Mas temos o direito de pedir algo melhor. Apenas um mestre consegue fazer tal confusão, e é talvez este o melhor consolo que podemos tirar, uma vez que temos o direito de esperar ver a mesma mão da criação vingar-se de si própria. E esta nossa vida, tão criticada, e por razões tão boas e mesmo exaltadas – não a devemos tomar por nada mas pelo que ela realmente é, e manter a esperança que numa outra vida veremos uma coisa melhor que isto.Agora vou para a cama, porque é tarde, e desejo-lhe boa noite e boa sorte.
Van Gogh
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(A responsabilidade pela traducao é minha)

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