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Monday, April 17, 2006

No blogue Poesia&Lda. continua a polémica sobre a fronteira entre o que é poesia e o que não passa de um mero exercício provocatório.

Como exemplos aparecem os poemas "Quatro mensagens deixadas no telemóvel" que Jorge Miranda publicou em "A Hora Perdida" (Campo das Letras 2003), e "Martha" poema da autoria de Manuel de Freitas incluído em " O Coração de Sábado à Noite" (Assírio & Alvim, 2004).

Se para alguns estes poemas marcam um antes e um depois na poesia Portuguesa moderna, rasgando toda e qualquer convenção e permanecendo a partir daqui como "poemas-exemplo", para outros são apenas desvarios de poetas que não podem ser reconhecidos como verdadeiros "poemas".


Quatro mensagens deixadas no telemóvel

"Dr __________
Muito bom dia, é com alegria que o informo que,
num sorteio realizado esta manhã, foi o feliz
contemplado com um serviço de jantar
de 32 peças.
Só terá de ter a maçada de o vir buscar esta noite
pelas 20 horas ao Hotel Ipanema."

#
"Porra, J_________,
tens sempre o telemóvel desligado
quando preciso de ti.
Fiz asneira outra vez e a __________
saiu de casa com os miúdos.
Vê se me telefonas ainda hoje."

#
"Olá, sou eu (silêncio)
Quero dizer (silêncio)
Tudo o que quero dizer, (silêncio)
Não sei (silêncio)
Tudo o que quero dizer levaria
mais tempo do que aquele que tenho
aqui.
Mas há coisas que não queremos ouvir
(silêncio)."

#
"Fala do Laboratório de Análises Clínicas,
Tenho aqui nas mãos o envelope
com o resultado das análises.
Quer que o envie por correio ou passará por cá para buscá-las?
Informe-me da sua decisão."


Jorge Miranda



Martha

Perdi o teu número.

Manuel Freitas


Para mim é poesia! Hiper-realista sem dúvida, com laivos de pretenciosismo admito, mas que raio...não fosse este pretenciosimo e estaríamos hoje ainda a escrever segundo a (não obstante nobre) tradição do vilancete, com mote e glosa.

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