A breve casualidade dos dias
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fiquei aqui muitas tardes à tua espera. debruçada nos teus livros, li até à exaustão linhas e linhas dos poemas que um dia escreveste ao meu lado. agora tudo é claro. era eu a sorrir com as palavras que não entendia, e tu dedicado a chocar-me com uma obscenidade que me atraía. era a forma crua com que dizias desejar a minha nudez ou alimentar-te da saliva dos corpos. incendiavas-me por baixo da mesa quando jantávamos com os meus pais e sorrias com uma naturalidade hercúlea. tinhas a capacidade de tornar bíblica a breve casualidade dos dias e eu caminhava altiva, inatingível. escrevíamos longas cartas um ao outro que iam chegando pelo correio, com selo e tudo, só para criar a ilusão de espera. e depois fugíamos para os jardins do palácio, onde por vezes à chuva, nos demorávamos às escondidas, as mãos eram as armas de uma guerra cuja pilhagem nunca acabava. depois partiste e deixaste somente os teus livros. as tuas cartas. as tuas linhas de poemas que só agora as entendo, que só agora percebo que falavam de outras cidades, de outros nomes, de outros jardins.
...fiquei aqui muitas tardes à tua espera. debruçada nos teus livros, li até à exaustão linhas e linhas dos poemas que um dia escreveste ao meu lado. agora tudo é claro. era eu a sorrir com as palavras que não entendia, e tu dedicado a chocar-me com uma obscenidade que me atraía. era a forma crua com que dizias desejar a minha nudez ou alimentar-te da saliva dos corpos. incendiavas-me por baixo da mesa quando jantávamos com os meus pais e sorrias com uma naturalidade hercúlea. tinhas a capacidade de tornar bíblica a breve casualidade dos dias e eu caminhava altiva, inatingível. escrevíamos longas cartas um ao outro que iam chegando pelo correio, com selo e tudo, só para criar a ilusão de espera. e depois fugíamos para os jardins do palácio, onde por vezes à chuva, nos demorávamos às escondidas, as mãos eram as armas de uma guerra cuja pilhagem nunca acabava. depois partiste e deixaste somente os teus livros. as tuas cartas. as tuas linhas de poemas que só agora as entendo, que só agora percebo que falavam de outras cidades, de outros nomes, de outros jardins.
Fernando Dinis
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