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Sunday, April 30, 2006



Caríssimos

O vosso repórter H não dorme, pelo menos não em serviço, e cá está mais uma crónica hebdomadária, que é como quem diz semanal. Esta semana mudo-me para o novo apartamento, não sem antes ter ressarcido o Foyer de St. Justin pela minha estadia. Não é que eles tenham merecido tal consideração, mas a condição de emigrante não me permite veleidades subversivas e dirão alguns, ilegais. Hoje ainda deverei assinar o contrato e receber a chave do imóvel. Dormirei em colchão emprestado, enquanto não chega aquele que encomendei no comércio local e que será pago em prestações, vejam bem, tal foi a machadada sofrida pelo meu salário.
Na passada Sexta-Feira tive a oportunidade de assistir a um concerto de órgão na imponente Catedral de St. Nicolas. O átrio principal da igreja estava muito bem composto de público e não pude deixar de pensar no porquê desta realidade não se produzir em Portugal, mais concretamente na terrinha (porque não?) isto é, pequenos eventos culturais – verdadeiramente culturais, e não megaeventos, pseudoeventos, festas da música, exposições gastronómicas ou de ovelhas ranhosas, e peças de teatro light protagonizadas pelos já badalados actores da TV – que todos os dias acontecem em algum local da cidade e onde é sempre possível encontrar bastante gente. Aqui, todos estes eventos surgem de sinergias – palavra muito em voga no governo Socrista – entre associações de cidadãos e empresas conscenciosas e que vêm nestes projectos boas apostas publicitárias. Estará então o problema no sector privado e nos seus condutores - tacanhos, avaros, de cabeça e fundos enfiados na crise ou na nova vivenda construída em terrenos suspeitos – ou no sector público que não incentiva a mecenização da cultura portuguesa? Ou estará o búsilis da questão no público que mais prefere assistir à última fachada teatral, que tem como tema a vagina e seus desabafos, do que visitar a exposição de Fhrida Kahalo no CCB? Ou serão estas questões produtos da cabeça de alguém já com tiques de emigrante? Não creio, mas seja como for continuarei a gozar de toda a cultura que a cidade e o país têm para me oferecer.
Neste sentido alerto também os meus caros companheiros, melómanos alguns, bem o sei, para a realização do prestigiadíssimo festival de Jazz de Montreaux de 30 de Junho a 15 de Julho, cujo programa foi apresentado em Fribourg na semana passada. Montreaux não fica a mais do que 50 Km de Fribourg, e será uma oportunidade para ver quão pequeno é o nosso Rock in Rio Lisboa. O festival divide-se por 3 salas principais e irá contar, entre outros muitos, com os seguintes nomes: The Black Eyed Peas, Leela James, Massive Attack, Simply Red, Brian Adams, Ney Matogrosso, Maria Rita, Martinho da Vila, Carlinhos Brown, Gilberto Gil, Santana, Sting, Sean Paul, Deep Purple, Iggy & the Stooges, Sigur Rós, Deftones, Tracy Chapman, Gotan Project, Mogway, dEUS, The Strokes, Van Morrison, Diana Krall, Chick Corea (Mozart’s Project), Diego El Cigala...parecem muitos, mas apenas nomeei aqueles que conheço. Faz-nos pensar em como no nosso quadradinho esquizofrénico no Atlântico vivemos de costas voltadas para o resto da Europa, anunciando à boca grande, a alarvidade de Portugal ter o maior festival de música do mundo! Cansado de escrever, despeço-me até à próxima remessa que virá quando assim me aprouver.

PS: E agora vou comer um Kebap ao restaurante dos meus amigos Turcos, pois nem só de cultura vive e sobrevive um repórter.

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