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Friday, April 28, 2006

A Voz de Trás

A Voz de Trás-os-Montes é uma amostra do mais entusiasta e genuíno jornalismo português do século… XIX. A Voz de Trás podia ter saído da pena de Eça de Queirós. Podia estar n'Os Maias, n'A Ilustre Casa de Ramires. Está em Vila Real porque aqui ficou esquecida, mas o seu lugar — merecido! — é no Museu da Imprensa. O estilo, a verve, o director, os colaboradores são peças vivas da história das gazetas em Portugal. N'A Voz de Trás (repare-se na sinceridade do título; o sufixo "os Montes" é só para evitar más interpretações, para dar mais pitoresco ao cabeçalho) não está só a melhor e mais requintada prosa que o século XIX deu à imprensa portuguesa. N'A Voz de Trás estão os valores do século XIX, estão as mais inatacáveis ideias do século XIX, está o Portugal (continental e ultramarino) do século XIX, está, apesar da tecnologia do século XXI (Deo gratias), a mobília do século XIX. E n'A Voz de Trás, por fidelidade aos ideais, aos princípios, ao essencial em detrimento do acessório, nota-se mais a mobília do que a tecnologia. A tecnologia evita algumas gralhas na prosa, actualiza um ou outro termo, alinha com maior facilidade os parágrafos, introduz um ou outro tipo moderno nos títulos, nos leads, permite publicar as fotos de juventude dos colunistas — mas é a mobília, sólida, rude, de ancestral madeira, que mantém bem alto o facho que ilumina o coração (e a alma, valha-me Deus, que já me esquecia) das gentes transmontanas. Facho (não escolho ao acaso as palavras) que agora iluminará todo o país, graças ao Expresso e aos visionários que o fazem.
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