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Sunday, June 04, 2006

Cartas do exílio

Um emigrante é sempre um emigrante, não se contando como atenuantes à condição as habilitações literárias do sujeito, ou as razões que o levaram a escolher o exílio. Seja forçado, seja voluntário, o exílio da pátria representa sempre um desafio. É um teste à qualidade da pessoa. Muitos nunca se conseguem integrar na nova malha social e acabam ou por regressar ou por de autodestruirem progressivamente. Independentemente do destino o emigrante traz permanentemente consigo para além da saudade, uma maneira de sentir colectiva que imana da própria saudade, e que o responsabiliza perante os seus compratriotas do seu comportamento na nova comunidade. A saudade funciona assim como um pilar de valores que o emigrante transporta desde a partida e que o torna obstinado e focado relativamente aos objectivos que o fizeram abandonar a pátria. A vantagem de pertencer a um povo com o gene da diáspora é que existe sempre um tecido social humano que está disposto a apoiar nos primeiros tempos de exílio, mas que não pode ser tomado como um apoio perene, pois as regras da concorrência e por último da inveja acabarão por tornar o auxílio castrador. Não obstante, é nesse primeiro contacto que o emigrante deposita a sua esperança e é nele que exorciza os seus fantasmas. Dependendo do carácter, o emigrante seguirá o seu caminho de maneira mais ou menos independente tentando em cada decisão manter o equilíbrio entre o que são os seus anseios e o que lhe demandam as sirenes da saudade. Mesmo partindo para um exílio com data de validade, o emigrante transporta consigo a nostalgia de poder nunca mais voltar à sua pátria, de a experiência do exílio o poder modificar de maneira irreversível. JMC
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