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Sunday, April 23, 2006

Queridos conterrâneos.

Mais uma vez, o vosso repórter Suiço relata a sua aventura em terras helvéticas tendo sempre em mente o objectivo final: um retrato fiel da vida dos (con)cidadãos deste país, quer sejam eles nacionais, estrangeiros ou, dentro destes últimos, emigrantes lusos.
Percorrendo as inúmeras avenidas, ruas e ruelas desta cidade à beira Sarine plantada, é fácil perceber que se trata de um país (generalizando a partir da cidade) bastante evoluído, em que tudo é planeado de maneira a que a vida dos seus cidadãos seja o mais facilitada quanto possível. Existem vias para os transportes não motorizados (vulgo bicicletas, patins, skates, trotinetes) de maneira que os cidadãos podem gozar – e gozam efectivamente – de meios de transporte saudáveis, e ambientalmente mais eficientes; regra geral os condutores dos dos veículos motorizados são conscienciosos e chegam ao cúmulo, vejam bem, de parar para deixar os peões atravessarem as estradas pelas inúmeras passadeiras – como são diferentes os condutores Portugueses!; o sistema de transportes públicos é altamente eficiente, trabalha ao minuto, e estende a sua acção por toda a cidade; quanto à organização estamos falados...
O clima é bastante variável. Ora chove, ora faz sol, ora neva. Está contudo, a análise do vosso repórter, limitada à curta estadia no país dos cantões. Nos últimos dias tenho verificado temperaturas altas e dias de um sol esplêndido.
O povo Suico na generalidade veste segundo as tendências, mas basta que apareçam os primeiros raios de sol, para o Suiço tirar as suas calças brancas do armário, as havaianas e a T-shirt justa a deixar entrever a inércia de um longo Inverno. O jovem Suiço traja tal e qual nos é dado a ver em terras Lusas durante os meses de Verão. A cor branca é bastante apreciada e o fio de oiro ainda é moda.
Não é dificil ao andar pelas ruas, no autocarro ou nas superfícies comerciais, ouvir o Português brejeiro, que tantas saudades causa neste vosso fiel repórter. São tamanhas as saudades que hoje, me desloquei a uma casa onde os descendentes de Viriato normalmente se reúnem para um saudável convívio ou para comer uma francesinha. A enorme bandeira de Portugal na entrada do estabelecimento não deixava lugar a equívocos; tratava-se concerteza de um pedaço de terras camonianas. Caso restassem dúvidas o atendimento foi esclarecedor: - “O que vai ser?”. Pôde então o vosso correspondente mudar o disco e pedir um café, que aqui é mais barato do que na generalidade dos bares – apenas 2,2 CHF (1,5 E). Na TV jogava o FCP o decisivo jogo do título e todos os olhares estavam no aparelho. Deixei-me ficar, escutando as conversas e vendo o desafio. De modo a testar o patriotismo do estabelecimento pedi uma cerveja. Não hesitei e mandei vir uma Super Bock (2,3 CHF). Era como regressar por momentos a um “Bar da Bola”, a um “17”, a uma “Toninha”, enfim, como retornar às saudosas origens. Mas tudo o que é bom termina, e assim decidi que era tempo de abalar. Quando abandonei o estabelecimento foi como viajar novamente, em segundos, a uma outra realidade que não era nem melhor nem pior, apenas diferente. Recolhi-me então à residência, onde agora escrevo este humilde relato.
Apesar da aptência noctívaga do vosso correspondente, este não teve, ainda, a oportunidade de a cumprir. Não é fácil conhecer pessoas na residência uma vez que o trabalho é longo e não existem oportunidades de convívio. Ainda assim, foi já possível visitar um pequeno bar, a escassos metros da minha habitação, onde bebi um caneco em honra dos estimados amigos. O cenário está contudo prestes a mudar, pois visitei na semana passada aquele que, julgo, virá a ser a minha moradia para os próximos meses. A renda não é parca, mas superável pelas excelentes condições do imóvel situado num bairro da alta, bem como pela simpatia dos meus futuros companheiros. Serão duas estudantes de Direito e um engenheiro. Terei ainda de comprar mobília para o quarto, mas já tenho algumas aquisições em vista. Na próxima semana desenrolar-se-ão acções decisivas – tal como o primeiro cheque a cair na conta Suiça – que depois o vosso reportér relatará. Há já muitos planos para o primeiro ordenado, mas acho que serão contidos, pois são grandes as despesas deste vosso amigo.

Sem mais a informar, despeço-me com amizade.

Celebrar o instante é consagrar a unidade na diferença e a sua virgindade inicial como a possibilidade da contínua renovação do ser.”

António Ramos Rosa in “O aprendiz secreto

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