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Thursday, October 12, 2006

Jaques Vaché
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"A Arte é uma estupidez", disse Jacques Vaché, e matou-se, escolheu a via rápida para se tornar artista do silêncio. [...]
Incluo Vaché neste caderno, abro com ele uma excepção pois gosto muito da sua frase de que a arte é uma estupidez e porque foi ele que me revelou que a opção de certos autores pelo silêncio não anula a sua obra; pelo contrário, outorga retroactivamente um poder e uma autoridade adicionais ao que renegaram: o repúdio da obra transforma-se numa nova fonte de valor, num certificado de indiscutivel seriedade. Essa seriedade, segundo Vaché, é uma seriedade que consiste em não interpretar a arte como algo cuja seriedade se perpetua eternamente, como um fim, como um veículo permanente para a ambição. Como diz Susan Sontag: "A atitude realmente séria é aquela que interpreta a arte como um meio para conseguir algo que talvez só se possa alcançar quando se abandona a arte.".
Abro uma excepção, pois, com o suicida Vaché, paradigma do artista sem obras; está em todas as enciclopédias tendo escrito apenas algumas cartas a André Breton e mais nada."
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[...]Isto mesmo levará Chamfort a negar a obra de arte e essa força pura da linguagem que, em si mesma e desde há já muito, atribuía a uma forma inigualável à sua rebeldia. Negar a arte conduziu-o a negações ainda mais extremas, incluindo essa "derrandeira negação" da qual falava Camus, que, analisando as questões pelas quais Chamfort não escreveu um romance e, além disso, caiu num prolongadíssimo silêncio diz: "A arte é o contrário do silêncio, constituindo um dos sinais dessa cumplicidade que nos liga aos homens na nossa luta comum. Para quem perdeu essa cumplicidade e se colocou por inteiro na recusa, nem a linguagem nem a arte conservam a sua expressão. Esta é, sem dúvida, a razão pela qual esse romance de uma negação jamais foi escrito: porque, justamente, era o romance de uma negação. E isto porque nessa arte existem os próprios princípios que deviam conduzir à negação." [...]
Chamfort levou o Não tão longe que, no dia em que pensou que a revolução Francesa - da qual fora inicialmente entusiasta - o tinha condenado, disparou um tiro que lhe rebentou o nariz e lhe vazou o olho direito. Ainda com vida, voltou ã carga, degolou-se com uma navalha e golpeou a sua carne. Banhado em sangue, esgravatou no peito com a arma e, por fim, depois de abrir as curvas das pernas e os pulsos, caiu sobre um autêntico lago de sangue."
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in Batleby & Companhia

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