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Wednesday, August 23, 2006

E.R.

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Fui, durante anos, um fiel de E.R. Sempre achei que era a série médica definitiva, a perfeição a que coisas como CHICAGO HOPE ou ST ELSEWHERE almejavam e quando a RTP a estreou em 1996 (se não estou em erro) tinha como ritual aninhar-se aos sábados à noite em frente à TV a ver a magnífica série de Michael Chrichton que revelou George Clooney ao mundo e foi buscar o talentoso Anthony Edwards (de TOP GUN) ao limbo de esquecimento das vedetas dos anos 80. Deixei de ver perto dos finais da quinta temporada, quando a RTP começou a baralhar horários, a trocar episódios e outras traquinices do género.

Entretanto, tanto a RTP como o AXN começaram a exibir a série, mas perdi-me no meio de temporadas desconhecidas e, tristemente, retirei-me do universo E.R. Isto até a série começar a ser editada em DVD. Fui comprando as caixas, "for old times sake". Há séries que vale a pena ter e revisitar episódios antigos (lembro-me de SERVIÇO DE URGÊNCIA conter obras-primas, como o episódio do nevão ou aquele em que Doug Ross, a personagem de Clooney, leva a cabo um aparatoso salvamento). Mas a verdade é que já não acompanho a série há uns anos valentes. Até que hoje, na 2, cruzo-me, por mero acaso, com um episódio fulcral da oitava série: o episódio da morte de Mark Greene (a personagem de Anthony Edwards). Não foi preciso muito tempo para me recordar porque é que fui devoto de SERVIÇO DE URGÊNCIA. Não ficava tão esmagado por quarenta e cinco minutos de televisão desde os mais intensos episódios de OS SOPRANOS. Ao ponto de me questionar - por não ter visto o genérico - se aquilo não seria uma longa-metragem independente com Anthony Edwards. Rapidamente me apercebi do que se estava a passar: a série estava longe da confusão do hospital. O episódio, lento, ponderado, com a banda sonora reduzida ao mínimo e apostando sobretudo no som do mar e em pouco mais, passava-se na casa de praia onde Mark Greene, com um cancro no cérebro em estado terminal, vive os seus últimos dias. Não são 45 minutos de digestão fácil (afinal de contas, é a crónica dilacerante da morte de uma popularíssima personagem da cultura popular televisiva americana dos últimos anos), mas foram dos mais serenamente intensos 45 minutos de ficção televisiva sobre a maneira de acertar contas com a vida. Dá para ficar esmagado com a precisão da montagem, o argumento, a realização, a firme vontade de contornar lugares-comuns e lamechas e a ousadia de, nos momentos finais, reinventar o cenário do hospital - pela primeira vez na história da série completamente deserto - para a despedida da personagem.

A série já vai, nos EUA, com 13 temporadas e já todos encontrámos outras coisas revolucionárias na televisão a merecer o nosso entusiasmo e a fazer-nos pensar que SERVIÇO DE URGÊNCIA teve a sua altura e já só merece o nosso esquecimento. Mas o que é certo é que, como quem não quer a coisa, e mesmo ofuscado por LOST, DONAS-DE-CASA DESESPERADAS e HOUSE, E.R. parece que vai continuando a operar suaves revoluções. (Sendo que "operar" não foi um trocadilho pensado.) [Nuno Markl]

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